sexta-feira, 4 de maio de 2012

"Cotas, solução ou segregação?" Texto de Luciano Oliveira de Almeida.

Estamos vivendo uma época complicada onde conceitos se misturam a preconceitos, onde moralismo e liberalismo não se vêem em lados opostos.
Na era do politicamente correto, ter opinião contrária por mais correta que seja para você, te torna alvo de constrangimento, seu conceito se torna preconceito, seu puritanismo se torna machismo e se o assunto envolver religião os adjetivos são muito mais amplos.
No dia 26 de abril, foi julgado na mais alta corte do nosso país e votada por 10 votos a 0 a constitucionalidade das cotas para negros em universidades públicas. Até aí tudo bem, pois dentro de uma democracia o cidadão tem o direito de discordar desde de que cumpra o que em termos jurídicos é tido como constitucional. A Constituição brasileira garante ao cidadão o direito de se manifestar desde de que seja de forma pacífica e ordeira. É um direito constitucional a liberdade de expressão e opinião.

Antes mesmo do julgamento eu já tinha minha opinião formada. Percorri os mais diversos sites e blogs atrás de opiniões sobre o julgamento do supremo, e para o meu espanto me deparei com vários blogueiros motivados com a imagem da princesa Isabel. O veredito de nossos magistrados de forma instantânea, se tornou uma reedição de lei Áurea, parecia que nós negros havíamos novamente ganho nossa liberdade.

Mesmo discordando, opiniões contrárias tem que ser respeitadas. Mas o que vi nesses blogs é algo que foge do principio básico de qualquer democracia que é o respeito as opiniões.

Dos muitos discursos que li sobre o tema, dois me chamaram atenção. Os dois diziam que as cotas dão início a um processo de auto-afirmação do negro na sociedade. A um olhar desatento e desavisado, esse seria o discurso ideal para um país mestiço, que tem como meta erradicar o preconceito e qualquer discriminação. Seria, se os mesmos que falam sobre auto afirmação do negro não estivessem em um passado não muito distante clamado contra o ex-bbb Daniel pelo suposto estupro no reality show, foi uma caça as bruxas em pleno século XXI, mais uma vez para nossa tristeza ficou provado que por mais tolerante que nossa sociedade se proclame, ao menor sinal de ameaça, o pensamento racista que se imaginava extinto aflora. Mais uma vez o achismo racista destrói um vida.
Em um outro blog governista, o jornalista que se auto-intitula o maior militante branco do país em defesa da causa negra, fez um lindo discurso sobre nossa auto-afirmação que será garantida através das cotas, só que o mesmo está sendo processado por ter chamado um jornalista negro de 'negro de alma branca' pelo fato de o mesmo não compartilhar de suas convicções políticas.
O que seria portanto, a politica de auto-afirmação para eles?

A história nos ensina que projetos e leis imediatistas sempre tendem a prejudicar aqueles que deveriam ser contemplados por elas.
O julgamento das cotas se tornou estratégia de uma batalha por poder, uma guerra entre a elite política e a elite burguesa do nosso país e dentro dessa guerra nós negros e pobres mais uma vez na história estamos sendo usados como bois de piranha. Quando homens detentores de muito poder, brigam entre si por divergirem em favor dos oprimidos, abra seus olhos pois o estrago gerado por essa divergência em um futuro bem próximo será cobrado de você.

Se vivemos em um país mestiço, como determinar raças? Sabemos que o Brasil é o país do futuro, não por suas riquezas naturais mas por sua riqueza humana, pois em nenhum outro lugar no planeta, pessoas de cultura, costumes e religiões diferentes vivem em plena harmonia como no nosso Brasil!
O que nos torna tão iguais são as nossas diferenças e a tolerância nata e quando isso acabar tenha a certeza que não seremos mais como na música do Ben Jor, abençoados por Deus.
Pensando assim, as cotas irão resolver a desigualdade social no Brasil? Certo que não! É um passo importante para amenizar anos de exclusão, desde que não seja usada por uma elite política como a lei áurea da modernidade!
O que não pode, é ser constitucional que meu amigo nascido e criado comigo na mesma favela tenha menos direito que eu de realizar seus sonhos por não ter nascido negro.

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